domingo, 24 de maio de 2015

Encontro Inesperado

Teatro: Texto construído mediante a apresentação e escolha de imagens apresentadas.
Personagens: duas figuras em gesso, uma representando um anjo portando um livro e a outra um mordomo segurando uma garrafa nas mãos.

ENCONTRO INESPERADO

O mordomo segurando uma garrafa de champanhe dirigindo-se até a sala de visitas, detém-se a observar os raios de sol que adentram na antessala pela janela aberta. Fixando o olhar para o céu, observa a beleza do dia, sentindo-se frustrado, resmunga:

Mordomo:
- Oh! Vida difícil.
Neste devaneio depara-se com a figura de um anjo, portanto nas mãos um livro luminoso. Este lhe acena com um cumprimento, ao qual ele responde num lamento:
Mordomo:
- Que sina nós temos. Eu sirvo aos nobres e ricos e você também está ai a serviço de Alguém importante. Somos meros trabalhadores.

O anjo, sorrindo responde:
- Ah! Eu me sinto feliz, pois tenho a oportunidade de servir a nobreza do céu. Meus patrões são especiais, e, portanto, eu também o sou.

Mordomo espantado indaga:
- Eles lhe tratam bem?

Anjo:
- Sim! Eu acompanho meu Senhor na tomada de decisões. Porto sempre comigo o livro do Bem. Comumente sou consultado antes das deliberações. E você está satisfeito com a sua atividade?

Mordomo:
- Francamente não. Sou utilizado como um cabide, um traz e leva coisas, que após atender aos amos torna-se invisível. Chamam-me, passam as ordens, mas não se detém a conversar comigo. Sou um mero servo: ouço e atendo.

Anjo:
- Entendo a sua reclamação. Concordo que é difícil permanecer mudo no desempenho de um trabalho quando temos tanto assunto para compartilhar. Eu me sentiria infeliz se não pudesse opinar no desempenho de minha atividade. Gosto de abrir o livro da vida e da morte e passar as sugestões para os meus Senhores.

Mordomo:
- Você quer dizer que não é um simples subalterno como eu.

Anjo:
Não, eu sou um assessor gabaritado e prestigiado pela Chefia. Atendo as determinações do meu Senhor e geralmente protejo aqueles que por ele são escolhidos. Inclusive, se houver motivos, eu até intercedo pelos selecionados.

Mordomo:
- Você que é feliz. Eu ao contrário não sou ouvido, sequer percebido; não protejo ninguém. Simplesmente trabalho trazendo e levando coisas, escutando e cumprindo ordens. Querem-me invisível e sempre em prontidão.

Anjo:
- Você parece estar insatisfeito. Um dia qualquer isto poderá mudar, e quem sabe você possa ser um dos chamados e escolhidos para atender ao meu Senhor. Quer juntar-se a nós?

Mordomo, surpreso olha para o céu, pensa e diz:
- Acredito que não. Ainda é cedo, prefiro ficar na terra ainda por um bom tempo. Pensando melhor, até que minha atividade não é tão ruim assim.

Anjo:
- Você é que sabe. Quando quiser mudar de ambiente e juntar-se a nós é só avisar. Poderei interceder e obter uma ótima vaga para você nesta Casa Celestial.

Mordomo:
- Prefiro aguardar e servir aos patrões da Terra. Mas obrigado pela oferta. Ah! Por favor, esqueça-se de minha pessoa por muitos anos.

Anjo:
- Atenderei seu pedido. Se mudar de ideia é só me avisar. Por enquanto, adeus e até outra oportunidade.

 Um som de sineta seguido de uma voz forte e sonora é ouvido, interrompendo a conversação:
Imagens Freepik

- João Alfredo, Cadê a champanhe? Estou aguardando. Apresse-se homem!

Mordomo, animado apressa os passos e diz:
- Estou chegando, senhora!...










3 comentários:

  1. Esse encontro referido é de todos o mais inesperado, apesar de termos consciência de que um dia ocorrerá para cada um, especialmente, para...TODOS. Lindo texto e ilustração instigante. Parabéns, Lourdes!

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  2. Texto lindo, criativo e bem escrito. Faz-nos pensar em como as vezes não agradecemos por aquilo que somos e possuimos. Parabens!

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  3. Se estivesse surpreso, seria apenas falta de sensibilidade. Estou simplesmente admirado com um trabalho excelente e com características próprias. Estou muito feliz por descobrir mais uma escritora entre meus alunos de Esperanto.

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