Teatro:
Texto construído mediante a apresentação e escolha de imagens apresentadas.
Personagens:
duas figuras em gesso, uma representando um anjo portando um livro e a outra um
mordomo segurando uma garrafa nas mãos.
ENCONTRO
INESPERADO
O mordomo
segurando uma garrafa de champanhe dirigindo-se até a sala de visitas, detém-se
a observar os raios de sol que adentram na antessala pela janela aberta.
Fixando o olhar para o céu, observa a beleza do dia, sentindo-se frustrado, resmunga:
Mordomo:
- Oh! Vida difícil.
Neste devaneio depara-se com a figura de um
anjo, portanto nas mãos um livro luminoso. Este lhe acena com um cumprimento,
ao qual ele responde num lamento:
Mordomo:
- Que sina nós temos. Eu sirvo aos nobres e
ricos e você também está ai a serviço de Alguém importante. Somos meros
trabalhadores.
- Ah! Eu me sinto feliz, pois tenho a
oportunidade de servir a nobreza do céu. Meus patrões são especiais, e,
portanto, eu também o sou.
Mordomo espantado indaga:
- Eles lhe tratam bem?
Anjo:
- Sim! Eu acompanho meu Senhor na tomada
de decisões. Porto sempre comigo o livro do Bem. Comumente sou consultado antes
das deliberações. E você está satisfeito com a sua atividade?
Mordomo:
- Francamente não. Sou utilizado como um
cabide, um traz e leva coisas, que após atender aos amos torna-se invisível.
Chamam-me, passam as ordens, mas não se detém a conversar comigo. Sou um mero
servo: ouço e atendo.
Anjo:
- Entendo a sua reclamação. Concordo que
é difícil permanecer mudo no desempenho de um trabalho quando temos tanto assunto
para compartilhar. Eu me sentiria infeliz se não pudesse opinar no desempenho
de minha atividade. Gosto de abrir o livro da vida e da morte e passar as
sugestões para os meus Senhores.
Mordomo:
- Você quer dizer que não é um simples
subalterno como eu.
Não, eu sou um assessor gabaritado e
prestigiado pela Chefia. Atendo as determinações do meu Senhor e geralmente
protejo aqueles que por ele são escolhidos. Inclusive, se houver motivos, eu
até intercedo pelos selecionados.
- Você que é feliz. Eu ao contrário não sou
ouvido, sequer percebido; não protejo ninguém. Simplesmente trabalho trazendo e
levando coisas, escutando e cumprindo ordens. Querem-me invisível e sempre em
prontidão.
Anjo:
- Você parece estar insatisfeito. Um dia
qualquer isto poderá mudar, e quem sabe você possa ser um dos chamados e
escolhidos para atender ao meu Senhor. Quer juntar-se a nós?
Mordomo, surpreso olha para o céu, pensa e
diz:
- Acredito que não. Ainda é cedo, prefiro
ficar na terra ainda por um bom tempo. Pensando melhor, até que minha atividade
não é tão ruim assim.
Anjo:
- Você é que sabe. Quando quiser mudar de
ambiente e juntar-se a nós é só avisar. Poderei interceder e obter uma ótima
vaga para você nesta Casa Celestial.
- Prefiro aguardar e servir aos patrões da
Terra. Mas obrigado pela oferta. Ah! Por favor, esqueça-se de minha pessoa por
muitos anos.
Anjo:
- Atenderei seu pedido. Se mudar de ideia é
só me avisar. Por enquanto, adeus e até outra oportunidade.
Um som de sineta seguido de uma voz forte e
sonora é ouvido, interrompendo a conversação:
Imagens Freepik |
- João Alfredo, Cadê a champanhe? Estou aguardando. Apresse-se
homem!
Mordomo, animado apressa os passos e diz:
- Estou chegando, senhora!...
Esse encontro referido é de todos o mais inesperado, apesar de termos consciência de que um dia ocorrerá para cada um, especialmente, para...TODOS. Lindo texto e ilustração instigante. Parabéns, Lourdes!
ResponderExcluirTexto lindo, criativo e bem escrito. Faz-nos pensar em como as vezes não agradecemos por aquilo que somos e possuimos. Parabens!
ResponderExcluirSe estivesse surpreso, seria apenas falta de sensibilidade. Estou simplesmente admirado com um trabalho excelente e com características próprias. Estou muito feliz por descobrir mais uma escritora entre meus alunos de Esperanto.
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