quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

SE EU PUDER FALAR COM DEUS...

SE EU PUDER FALAR COM DEUS...

Se eu puder falar com Deus eu pedirei:
 que ajude a humanidade a preservar a naturalidade
e então, ela aprenderá a amar ao próximo como a si mesmo;
que os ensine a pensar que o planeta é de todos e para todos;
e que assim como a natureza precisa de ajuda, as pessoas necessitam de comida;
que as guerras carecem findar, para a paz então reinar;
que as doenças devem ceder para a saúde chegar;
que a avareza obriga-se terminar, para a paz compartilhar;
Imagens Freepik
que o ódio é um sentimento a eliminar para em amor se transformar.
Deste modo os seres irão perceber que o sol brilha global,
Tal qual a estrela, em constelação, ilumina o universo.
Deus olhe e ajude essa gente!
Afim de que reencontrem o principio da criação onde:
Tudo foi produzido para o bem geral, em benefício dos entes que nesta Terra habitam!
Fraternidade sempre...

terça-feira, 21 de outubro de 2014

O FUNDO DO POÇO

COMO SAIR DO FUNDO DO POÇO?
Quem um dia não se sentiu no fundo de um poço, cuja queda ocorreu inesperada e vertiginosamente sem que sequer tenha percebido que estava afundando, ou mesmo numa caída abrupta?  Ficamos vítimas desse tipo de golpe que vem repentinamente, sem que saibamos de onde partiu ou a razão da forte batida. E nestas situações o pior é que a recuperação não é milagrosa, mas sim, muito lenta, isto quando acontece. 
Nem sempre reconquistamos o equilíbrio do ponto inicial, soerguendo-nos e parando muitas vezes ainda em meio do caminho. Assim, desgastados e desaminados, consideramos que se chegar a qualquer local de apoio será satisfatório, isto se deparamos com uma escada de esteio. Por um período, encolhemos-nos e ficamos camuflados no buraco escuro; e é lá que nos encontra e enxovalha o nosso egocentrismo, inimigo impiedoso, ressaltando nossos sentimentos obtusos de orgulho e vaidade ferida. Embebidos neste processo de penalização e sentindo-nos injustiçados, buscamos nos aquietar, sofrendo escondido, pois a profundidade é tamanha que não conseguimos emitir sons audíveis de socorro.    
Nesta fase é que descobrimos que somente nós é que podemos nos levantar; pouco importando o tempo decorrido para haurir as forças imprescindíveis para o começo da recuperação. Em nossa jornada deparamos-nos com tantas ocorrências que não entendemos, razões inexplicáveis para os fatos desagradáveis com os quais nos defrontamos. Questionamos se fomos esquecidos pelo Criador, amaldiçoados pelo destino, afrontados por inimigos cruéis e tantas outras desculpas. Somente a partir do momento em que assentimos nossa própria responsabilidade consciente ou inconsciente nas desditas sofridas é que principiamos um movimento de restauração ou mesmo de remodelação comportamental em relação aos eventos negativos. Ocorre que inúmeras vezes damos a outrem o poder de decidir, intervir, alegrar, comandar, entristecer, orientar, desorientar, enfim de interferir ou de tomar o leme de nossa existência. 
E enquanto estamos imbuídos nessa terceirização vivencial, ficamos sensíveis às intempéries advindas de pontos externos, inimaginável em nosso pequeno mundo racional.  É desta forma que o inusitado nos atinge sorrateiro, provocando uma derrocada profunda. 
Após mergulharmos em lamentações, maldizermos a sorte, passamos gradativamente a conscientização de que a força para levantar está somente em nós. Ajuda externa será inútil se em nosso íntimo não criarmos o desejo de recuperação. Exclusivamente a partir do nascimento desta vontade de recobro é que acionamos a vigor da escalada rumo à ascensão, que poderá ser até a borda, parar no meio do trajeto, desviar, criar atalhos, descobrir novas beiradas, trilhar outros rumos, onde a escolha será sempre nossa. Afinal para todo problema existe uma solução; podemos desgostar das alternativas, porém, elas vislumbram recursos; inclusive nada decidir e permanecer inerte no abismo também é uma opção. 
Todavia, existem ocasiões em que ao tentarmos levantar afundamos ainda mais, isto na tentativa de movimentar o lamaçal em que nos situamos. Tempo, paciência, força, coragem, esperança, sonho, criatividade, ilusão, imaginação são alguns recursos que auxiliam nesta elevação. Algumas opções alvitram como fantasiosas, contudo, se na conjuntura forem validadas, carecemos fazer uso delas, pois quando submerso é que mais necessitamos de energias, mesmo quando estas advenham de ilusões.
Depois, em recuperação ou devidamente restaurados é que conseguiremos afrontar os agravos, partindo para novos rumos, fazendo outras escolhas, assumindo o controle de nossa história. 

Afinal, sempre é tempo de recomeçar, mesmo em devaneio, desde que traduza esperança, vontade de viver. Um poço sempre será um poço e permanecerá lá, contudo, se acaso inadvertidamente cairmos, podemos nos levantar!


Imagens Freepik






segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A, E, I – vogais da primavera




A, E, I – vogais da primavera

A, e, i são expressões vogais

Que remetem ao canto; uma ode à vida e a primavera,

Estação cheia de flores, cores e amores

Período em que os pássaros compõem músicas,

As plantas alegremente dançam

O vento a movimentar balança
Imagens Freepik

A água cai em abundância

Então a energia vem em pujança

Na maravilhosa estação em que faço festança

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

NÃO DEIXE O SONHO MORRER


SONETO: 'NÃO DEIXE O SONHO MORRER'

Tenho certeza sempre irei sonhar
E então projetos vou realizando
E assim minha vida irá se alegrar
Nem que seja perdendo ou ganhando
Muitas estrelas no céu vão brilhar
Se na estrada estiver saltitando
Com o universo vou compartilhar
Impávidos sonhos vou conquistando

Que pensam minha alma acarinhar
Tristes e alegres vão multiplicando
Pra medo e expectativa afugentar

Novas quimeras a desabrochar
Deixando Esperança ser comando
E a jornada perfeita pra sonhar!


(Versos decassílabos,correção professora Edna Domenica Merola; paródia da música Não deixe o Samba Morrer/Alcione)

Imagens Freepik



sexta-feira, 5 de setembro de 2014

A Aquarela e a minha Infância


Inspirada na letra da música: Aquarela- Toquinho (Toquinho e Vinicius de Moraes)

Imagens Freepik
Lembro, com saudades, dos primeiros tempos de escola, quando no início do ano, as meninas faziam belos desenhos na primeira página dos vários cadernos, para enfeitá-los, atividade esta que geralmente era solicitada pela professora. Entristecia-me por não conseguir produzi-los, devido à falta de habilidade motora. Então, pedia aos meus pais que me auxiliassem. Mamãe com traços imperfeitos desenhava uma casinha, que eu ajudava a colorir de rosa; uma árvore que ficava verde, e um forte traçado de sol, muito amarelo, além do azul do céu.
Já meu pai desenhava uma vaquinha malhada, onde o branco era mesclado com pontos escuros, entre cinza e preto, onde eu acrescentava o vermelho. O solo onde o animal pisava erra marrom cor da terra, com uns rabiscos verdes, representando a grama.  Sobre estes resplandeciam nuvens azuladas, e uns riscos cinza que reportavam a figura de pássaros.
Eles também não eram habilidosos com o desenho; contudo, a forma como tentavam apoiar-me e ajudar consistia num momento colorido, impregnado de afeto, onde se as representações simbólicas eram feias para os padrões escolares, tornavam-se maravilhosas aos meus ingênuos olhos infantis.

E assim, numa folha qualquer, o sol era amarelo e o céu azul com um castelo tracejado e gaivotas demarcadas, todos unidos pelo sorriso familiar que os circundava sem compasso, mas com muito abraço, matizando o futuro que se descortinava, num mundo a correr. E sem pedir licença o tempo passou, barcos e passarelas ele criou, porém, a boa lembrança ele guardou de um mundo colorido e às vezes descolorido que a aquarela da vida pintou.



segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Nascimento

     Eu estava no ventre de minha mãe. Chegara a hora de nascer. Senti que tanto quanto eu, minha mãe tinha medo, muito medo da desconhecida sensação que iríamos enfrentar. Eu receava, em demasia, sair do conforto e aconchego das entranhas maternas que me protegiam. Contudo, eu saí, e chorei. Foram as primeiras lágrimas que derramei. Não sei se felizes ou assustadas, afinal era um novo cenário que se descortinava para mim. Ouvi os suspiros dolorosos de minha genitora, bem como as palavras da parteira, e pela primeira vez o som da voz de meu pai, dizendo emocionadamente:
Imagens Freepik
     - É uma menina! Querida, a nossa menininha chegou.     
Ah! Como me senti segura naquele momento. Lembro-me de ter sido lavada, delicadamente vestida e enrolada numa manta cheirosa. Senti-me aninhada e aquecida. Aquele era o primeiro dia de minha vida junto àquela família. Um mundo de novidades seriam descobertas no dia a dia; teria momentos felizes, outros tristes, venturas e desventuras, vitórias e frustrações, porém, o carinhoso colo paterno, juntamente com o afago de minha mãe, deu-me uma certeza: eu sempre seria por eles muito amada!...

sexta-feira, 18 de julho de 2014

BRASIL SETE?


BRASIL SETE?

Imagens Freepick
A população brasileira ficou pasma com o resultado do jogo entre o Brasil e a Alemanha, pelas semifinais da Copa do Mundo/FIFA, dia 8 de julho/2014. Levamos sete gols em poucos minutos, sendo os primeiros cinco numa sequência de toques que pareceram mágicos, enquanto os nossos jogadores ficaram inertes, num estado de letargia. Qual o significado desta ocorrência? Traduzirá alguma mensagem? Foi um acontecimento normal? Existe concordância que seria natural caso nós perdêssemos de: três a um, três a dois, dois a um, resultados considerados aceitáveis, decorrentes do esporte. Contudo, para uma seleção que chega às últimas etapas num campeonato mundial, este placar de sete a um é improvável, surreal.

Num grupo de estudos do qual sou integrante, pesquisamos a “Lei de Causa e Efeito”, como uma forma de aproximar os ensinamentos espirituais ao cotidiano. Dentro dessas premissas, analisamos essa partida de futebol, refletindo que a Alemanha levou apenas um gol, enquanto aplicou sete na equipe adversária por estar mais bem preparada física, emocional e espiritualmente, o que foi comprovado durante o jogo através do desempenho coletivo e também pelo comportamento dos atletas após a finalização da partida, quando retornaram ao campo e confraternizaram humildemente com os torcedores. Mesmo perante um adversário abatido e derrotado, demonstraram respeito. O exemplo demonstra como o mais bem preparado obtém o melhor resultado.
     Mas será que foi só isso o que aconteceu lá no gramado? Ressaltando que o Brasil é a Pátria do Evangelho, no contexto da doutrina espiritualista, indagamo-nos se este fato não foi um recado da espiritualidade, uma intervenção dos mentores para que ficássemos realmente abismados, num tratamento de choque, marcados para sempre através do esporte com um resultado aviltante, apesar de termos bons esportistas no quadro. Observamos que os dois atletas que sobressaiam no quadro foram previamente afastados: o capitão que detinha bom nível de comando foi suspenso, e o melhor jogador ficou machucado. Especula-se que se estas duas lideranças estivessem em campo, à derrota poderia ocorrer, contudo seria em níveis aceitáveis, dada a força esportiva e mental destes dois componentes. Assim, foram estrategicamente providenciados os afastamentos destes na disputa.

 Então qual a mensagem? Poderão ser muitas, e cada um interpretará segundo a sua visão mental. Especulamos sobre algumas: o tempo pão e circo com a ênfase que o país concede ao futebol estão exacerbados e fora da normalidade, em detrimento até aos outros esportes. Ou falta-nos humildade, quiçá atenção para com nossos problemas internos. Endeusamos jogadores, criando um círculo energético além do saudável e necessário e assim estamos também prejudicando as auras destes profissionais e seus familiares. Estamos demasiadamente preocupados com retorno financeiro, esquecendo a caridade para com nossos irmãos menos afortunados na constante ansiedade em vencer, ser sempre o melhor, ganhar sempre mais. Nossos conceitos de responsabilidade e honestidade talvez precisem ser revistos, e certamente mudanças ocorrerão não só no esporte, atualmente envolto em escândalos de corrupção. Possivelmente estamos sendo chamados à responsabilidade para com este país, a fim de prepará-lo para receber as novas encarnações que virão neste processo evolutivo do planeta e os degradantes sete a um foi à forma que nossos mentores encontraram de nos chamar para a realidade, concentrando num futuro próximo, as energias e recursos em novos e múltiplos projetos econômicos, sociais e educacionais. Afinal em tudo no universo sempre há uma causa e um efeito, e para tudo o que acontece existe uma razão explícita ou oculta, desde que saibamos como desvendá-la. Assim, se o resultado de sete a um jamais será esquecido, que seja então bem aproveitado no refazimento de nossas políticas não só esportivas, mas em igualdade com as demais que interferem no comando, desempenho e bem viver de toda a nação.


quarta-feira, 2 de julho de 2014

O CALOR DO INVERNO



   Ouvi no noticiário televisivo noturno que a estação do inverno chegara. Instintivamente, senti um arrepio de frio a percorrer-me os ossos. Deitada num sofá, eu me aconcheguei ainda mais nos cobertores que me envolviam. E então viajei. Retornei ao longínquo passado, num período tão distante, o da minha infância querida.

Imagens Freepik
Naquela época eu morava no interior do estado, numa cidade localizada no oeste catarinense, onde as estações são bem definidas; portanto, na invernia a friagem era intensa, contrapondo com a perfeição das paisagens brancas de geada. Parece-me que hoje, após décadas, o gelo diminuiu, e o branco quase sumiu. Restaram poucos sintomas dos cenários paradisíacos aos olhos, onde a beleza contrastava com a rudeza da situação, quando as plantas morriam, as aves se recolhiam os animais se protegiam e nós, os humanos, nos reuníamos permanecendo sob o abrigo do lar. Recordo com saudade das manhãs frias, quando meu pai após acender o fogo no velho fogão a lenha que aquecia o ambiente da cozinha, chamava-me para ver pelos vidros orvalhados da janela, o descortinar da paisagem. Somente agora eu compreendo o quanto eu amava aquele panorama: o carinho paterno, o calor da chama, o abrigo da moradia, os agasalhos que me cobriam do frio que lá fora fazia e todas as esperanças que na meninice eu nutria. Talvez por esses contrastes eu sinta agora essa nostalgia quando cada nova temporada invernal chega. Este período sempre me leva a recordar dos bons momentos que vivi como também de tudo o que perdi, dos entes queridos presentes ou desencarnados, até das mudanças que fiz ou das que olvidei restando sonhos que não realizei e frustrações que adquiri, e ainda de todo o tempo que já existi. Quisera voltar ao passado, reviver as emoções, fazer tantas coisas diferentes; contudo, não posso. O que passou simplesmente se foi.  Felizmente minha memória guarda as lembranças, trazendo-as à tona nos momentos oportunos, como a alimentar-me a alma, revigorando as energias e aquecendo o coração nos dias gelados. Ah! Inverno, tempo frio que me traz calor... 

sexta-feira, 13 de junho de 2014

O Menino Triste


  
Dona Catarina era uma vovó daquele tipo bondoso, aspecto delicado, olhos azuis claros, cabelos totalmente brancos, que por serem longos, ficavam presos num coque. Morava numa casinha, situada em um belo sítio, rodeada de árvores frutíferas e jardins, além das plantações de hortaliças, cuidadas pelos trabalhadores contratados, cujas famílias residiam em habitações próximas.  Ali os animais bem tratados, eram compostos por: vacas leiteiras esbaldando-se nos pastos, cavalos passeando pelos campos delineados, galinhas cacarejando nos seus terreiros, cães correndo soltos. A rotina transcorria ordenada, até que a tranquilidade foi quebrada com a tristeza pela morte, em acidente automobilístico, de seu único filho, que perecera juntamente com a esposa.
Sobrevivera um neto, um garoto de oito anos chamado José Luiz, cujo apelido era Zézico. O menino ficara prostrado com a perda dos pais e a mudança repentina, saindo da grande cidade, indo residir no campo junto da avó, a parente que lhe restara. Zézico passava a maior parte do tempo no quarto, jogado sobre a cama, alimentando-se muito pouco. Até o médico fora chamado, mas nenhuma doença grave foi constatada. O problema era a tristeza, a dor da alma.
Numa tarde, a gentil velhinha entristecida, deitou-se na sua rede favorita, preocupada em encontrar alternativas para ajudar o netinho.
Adormeceu e sonhou que ela era um anjo, e como tal, teria poderes de criar um ser especial, um super-herói capaz de comunicar-se com a criança que se mantinha isolada, calada, refugiada num mundo interno de dor e saudade.
Sentindo-se leve, na roupagem e com as asas do anjo em que se transformara, ela foi voando até o quarto onde o pequeno jazia prostrado, numa agonia e silêncio profundo, que nem a medicação conseguira melhorar. Do alto das paredes, ela observou o menino que permanecia com os olhos abertos, porém, imóvel. Então, usando seus poderes mentais manifestados em sua forma angelical, a vovó Catarina, entrou na mente do netinho, lendo seus pensamentos aflitivos:
– Ah! Como estou infeliz, lamentava-se ele. - Não tenho mais família; os pais que eu amava se foram; mudei de residência, de cidade, perdi também os amigos, nada restou. Eu não mais tenho razões para viver. Quero só ficar aqui, quieto sobre a cama, esperando morrer e assim, poder reencontrar aqueles a quem tanto amo e perdi.
A avó, personificada num anjo invisível ao ser humano, acariciou ternamente a face do garoto, que sentiu apenas um leve arrepio, como se fosse à carícia da mão abençoada de sua mãe. Quebrou o mutismo e murmurou:
– Mamãe, é você? Você veio me buscar?
E sentindo um toque conhecido nas mãos, indagou:
– Papai, você também está aqui? Você e a mamãe vieram me buscar para voltarmos a ser uma família?
Como por milagre e inspiradas por uma criatura superior, o pequeno José Luiz, ouviu mentalmente as vozes de seus pais explicando:
– Amado filho, nós estamos aqui para dizer-lhe que ainda não é a sua hora de partir. Você tem uma tarefa a realizar neste planeta. Porém, você nunca estará sozinho. Nós estaremos junto a você, cada vez que pensar em nós.  Estas foram as palavras afetuosas sussurradas por sua mãe.
Então, o pai, em tom enérgico, todavia amoroso, concluiu:
– Filho, levante e permita-se ver a beleza da natureza lá fora. Você tem a companhia da sua avó que não o deixará sozinho e ela representa um anjo bom, que zelará pela sua pessoa. Cada vez que ela o abraçar, sinta como se eu e sua mãe o estivéssemos fazendo. Ela nos representa neste mundo, portanto, não nos deixe apreensivos com seu comportamento recluso. Aceite o afeto que a vovó lhe oferece. Permita que ela o ame, e ame-a igualmente. Nós prometemos que providenciaremos um amigo para acompanhá-lo nas brincadeiras e nas caminhadas pelo sítio. Agora precisamos ir. Fique em paz e com saúde, amado filho.
Feito isto, o anjo que representara por momentos a figura dos pais falecidos do deprimido garoto, beijou-lhe a face, e retornou à rede, onde a atribulada vovó descansava. Ainda sob o efeito do sonho, dona Catarina, sentindo-se uma figura angelical, perguntou:
– O que devo fazer para trazer alegria ao meu neto? Gostaria de dar-lhe um presente, quiçá um amigo, um ser que constitua num estimulo para superar esta fase difícil.
E mantendo a personificação de anjo, ela voou por entre a propriedade à procura de um ser especial. Como se fosse guiada, ela pousou o olhar sobre um filhote Cocker Spaniel Inglês, um tipo de cão de pequeno porte, capaz de mover-se com desembaraço por terrenos e com excelente olfato. O animalzinho deveria ter cerca de seis meses de idade, mas já corria solto pela vegetação, deixando suas marcas.
Aproximou-se delicadamente e como anjo oculto inquiriu:
– Cãozinho, você quer me auxiliar a cuidar de um garotinho que está sozinho e melancólico?
Entendendo a mensagem do ser especial que tocava em seu pelo, o cãozinho, animado abanou o rabinho, articulando:
–Sim, eu aceito a tarefa. Serei seu colaborador e o guia companheiro da criança que você que ajudar.
– Ótimo, então eu o declaro um cão Super-Herói. A partir de agora você irá se comunicar com o menino Zézico, e ficará sob sua responsabilidade alegrá-lo.
O cachorrinho saltitou alegremente, em agradecimento a honraria que lhe fora concedida.
– E onde eu encontro este garoto? Soçobrou ele.
– Venha comigo que irei lhe mostrar onde ele está.
E unidos voaram até o quarto onde o soturno menino repousava.
Enquanto isso, Dona Catarina, ainda adormecida, sentiu uma brisa suave sob seu corpo, um farfalhar como se uma energia desprendia de sua mente, e foi aos poucos acordando.
– Eu sonhei que era um anjo? Interrogou-se, respondendo ao mesmo tempo.
– E como anjo eu pude ajudar o Zézico. Oh! Como seria bom se isto fosse real.
Divagando, ela expressou:
– E na forma angelical eu até providenciei um cãozinho para ser amigo do meu querido netinho. Que maravilha!
A velha senhora levantou-se vagarosamente, espreguiçando-se. Adentrou a casa, dirigindo-se até os aposentos da criança. Estranhou que a porta estava aberta, e ainda mais por ouvir a voz do garoto, que insistia em permanecer mudo há tanto tempo. Maravilhou-se com o quadro delineado sob seu olhar.
Zézico sentado no chão, tendo em seu colo um filhote de cachorro da raça Cocker. O menino indagava em voz sonora:
–Você quer ser meu amigo? Se quiser, abane essas orelhas grandes que entenderei como um sim.
Espantada, a avó percebeu um gesto no cão, assentindo com o corpo, numa resposta positiva.
O neto sorriu ante o gesto afirmativo do animal, e complementou:
– Então, dê-me sua pata, e a partir de agora selamos a nossa amizade. Diga-me, você tem um nome?
O cãozinho levantou a uma das patas e olhou para a criança, ao que ela anuiu:
– Isto é um sinal; somos companheiros a partir de agora. Acho que você ainda não tem nome.  Bem, penso em chamá-lo de Rob, isto é um diminutivo para Roberto, que era o nome do meu pai. Você gosta deste nome?
Ante o latido do cachorrinho, o garoto sorriu, pronunciando:
– Muito prazer amigo Rob. Eu sou Zézico. Preciso arrumar um espaço para você dormir em meu quarto, já que me fará companhia.
E puxando um tapete felpudo que havia próximo ao leito, ele proferiu:
–É aqui que você irá dormir!
Somente então, Zézico percebeu a presença da avó na soleira da porta. E quebrando um longo período de mutismo e padecimento, a criança comunicou-se com a avozinha:
– Olhe vovó, que cãozinho lindo, e é um Cocker Spaniel Inglês. O papai sempre me contava que tivera um quando era criança. Agora eu também tenho igual, e foi ele quem me encontrou. Veio sozinho até o meu quarto, acordando-me com seus latidos. Como ele é esperto!
A velha senhora emocionou-se, lembrando-se do sonho. O anjo da guarda realmente incorporara em seu ser, e ele trouxera do canil o pequeno animal até o neto, ou será que fora ela, a avó em pessoa quem buscara o Cocker?
Não tinha lembrança de tê-lo feito, portanto, a vinda do cãozinho até o Zézico fora realmente uma obra do ser angelical, que em sua passagem também atribuiu ao pequeno animal os poderes de um Super-Herói, capaz de criar um elo de comunicação, iniciando a superação da tristeza e o redespertar da energia da vida no órfão. O Rob era o Super-herói extraordinário que acordara o neto para a continuidade da existência, possibilitando aceitar as adversidades e lutar enfrentando a tragédia que ocorrera.
Ouviu a voz do neto, desta vez mais segura, a indagar-lhe.
– Vovó, eu posso levar o Rob passear lá fora? Quero ensinar-lhe a correr atrás das borboletas.
–Claro querido, vá. Está uma linda tarde. Aproveite a pujança e o benefício da luz solar. O Rob irá adorar correr por ai, isto faz parte de sua natureza. Creio que vocês farão uma bela dupla!
Ante a saída intempestiva do garoto acompanhado pelo cachorrinho, dona Catarina ergueu as mãos para o céu, dizendo:

– Obrigada meu anjo da guarda pela ajuda e por ter designado um amigo super-herói como o cãozinho Rob para acompanhar e alegrar o Zézico. Agora eu sei que ele está pronto para recomeçar.










Leite da alma


Sentindo-me acabrunhada antes de dormir, resolvi tomar um copo de leite. Ao pegar a caixa e despejar o conteúdo, indelicadamente derramei o precioso líquido. Após limpar a bagunça, sentei-me na cadeira próxima a mesa, disposta a sorver o restante que permanecera no recipiente. De súbito, veio em minha mente à comparação das passagens de minha existência com o conteúdo esparramado. Divaguei, assim são os sonhos, após espalhados, são perdidos, quer tenham sido realizados ou não. E o  suave líquido após absorvido, apesar de alimentar graças a sua riqueza em proteínas, lactose, vitaminas e sais minerais, sofre posteriormente um processo de fusão natural misturando-se à massa corpórea e a corrente sanguínea, expelindo os excessos, cumprindo assim a sua função natural. Porém, quando entornado, perde-se na matéria, sem cumprir o seu papel vital.  Na vida ocorre ação semelhante: os projetos realizados são incorporados ao consciente e os fracassos são meras energias perdidas, que se foram sem condições de resgate. Infelizmente não é possível juntar e aproveitar o que verteu. É irônico constatar como pensamento e matéria tem uma mesma sinergia, uma finalidade similar. No cotidiano o que deixamos passar ou o que perdemos se dissipa no tempo e no espaço, procedimento que também ocorre com as coisas, os elementos que nos servem. O que é desperdiçado seja em devaneios ou em elementos sólidos ou líquidos não pode ser recuperado. Simplesmente se vai. E tudo passa...  Com a estação, lá se vão os eventos irrealizáveis, os derramamentos desastrosos, deixando porcarias para limpar, frustrações para sanar. Estranho pensar o quanto os movimentos externos refletem na mente interior. O leite verteu, escorregou, foi sorvido pelo pano que o enxugou. Os planos, as aspirações por mim não concretizadas foram sugadas pelo inconsciente, delas restando apenas lembranças, que como o líquido espargido são passíveis de apresentar classificações sadias, azedas, aguadas, fortes, dependendo da forma como foram armazenadas.

Imagens Freepik
Voltando ao mundo real, despejei num copo o que sobrara do leite, com o intuito de bebê-lo, ciente que dali retiraria o alimento necessário para aquele momento. Ao desempenhar esta ação, senti um sopro de ânimo, um alento vindo de minha alma, como a dizer-me: aproveite o tempo que resta nesta encarnação, nutra novos sonhos, e sorva-os, transformando-os em benéfica realidade, nutrindo o espírito, da mesma forma como o pouco leite que ainda restou irá fortificar e acalmar-lhe o corpo físico. Oh! Bendito e milagroso sustento.


sexta-feira, 2 de maio de 2014

Amizade

A M I Z A D E

Os dicionários definem amizade como um sentimento fiel de afeição, de estima ou de ternura entre pessoas. Da junção humana agregada ao campo emocional, surgem os amigos, as pessoas que são ligadas por laços de apego, de companheirismo ou de proteção, sendo inclusive, passível a coexistência destas percepções de forma unificada. Amizade é uma energia que aproxima e envolve a humanidade. Quanto expressa de modo positivo, ela proporciona uma tranquilidade amorosa que liberta, gerando uma sensação saudável de afetividade. Porém, quando apregoada de maneira exagerada, tende a tornar-se obsessiva, com tendência a aprisionar o outro, desejando contaminá-lo com sensações e pensamentos que são exclusivamente de um dos partícipes, não ocorrendo inteiração. Surgem então os conflitos, os pesares que vão aos poucos desenergizando as relações.  Esta dessintonia na relação cede espaço para o surgimento de mágoas, que nada mais são do que descontentamentos, amarguras acumuladas e não tratadas; também e com maior amplitude aparece a cobiça, a inveja, o querer o que o outro tem. A inquietude gerada pela inveja, por sentir desgosto ou pesar pelos pertences físicos, financeiros, morais ou emocionais do parceiro amigo é um perigoso condutor para o término do relacionamento, podendo gerar fatalidades. Muitos se sentem donos do companheiro, desejando exclusividade na atenção. Contudo, a vida é composta por uma sequência de fatos, e assim, nada permanece imutável. As pessoas evoluem, adicionam novos componentes em sua caminhada, e a verdadeira amizade precisa dar espaço para esses acréscimos, conseguindo com sabedoria adequar-se às novas situações. Somente assim o sentimento frutificara, fortalecendo-se com as vitórias do amigo, consolando-o nos momentos críticos, respeitando sua necessidade de silêncio quando esta se fizer premente, bem como o encorajando a alcançar novos patamares. Para se chegar a esta maturidade afetiva, a pessoa necessita passar pelo processo de autoconhecimento, efetuando as mudanças internas necessárias para que advenha a aceitação de si próprio, com as qualidades e defeitos que lhe são inerentes, e ainda, acolher o outro com a bagagem que lhe é particular, sem a pré-intenção de modificá-lo.  Pelos valores intrínsecos embutidos popularizou-se que a amizade é uma riqueza inestimável, cuja valorização conquista-se aos poucos, sendo necessário equilíbrio, discernimento e dedicação a fim de preservá-la. Relações interpessoais geram sentimentos saudáveis de afetividade. Amizade é uma troca de afeição recíproca, que não pode ser corrompida por sentimentos prejudiciais e contrários a ternura e atenção. É tão delicada como o vidro: não pode trincar, pois mesmo recuperado, uma marca indelével ou não, permanecerá A amizade verdadeira se expressa de forma pura, límpida, honesta e transparente. Afinal, “amigo é coisa para se guardar”; cuidar como se fosse um delicado diamante, um tesouro para eternizar. 

Imagens Freepik

terça-feira, 22 de abril de 2014

DISLEXIA


Imagens Freepik





A Escola e a Dislexia
Conto:  Lourdes T. Thomé
Letícia retornou da escola, não quis almoçar e trancou-se no quarto. Preocupada, a mãe Laura dirigiu-se até os aposentos da filha para saber o que estava ocorrendo. Encontrou-a encolhida na cama, chorando.
- Letícia, meu amor, o que foi? O que aconteceu para você chorar assim? Perguntou Laura abraçando a garota.
Observou-a. Sua pequena era uma menininha morena, miúda, delicada, com aquele ar inocente que se tem aos sete anos de idade.
             Enxugando as lágrimas, Letícia balbuciou a resposta.
- Mãe, é que as crianças da escola disseram que eu seu sou burra.
- Como assim minha filha?
- Elas gritaram no horário do lanche:
- “A Letícia é burra. Burra! Burra! Ela não sabe ler”.
- Oh! Minha pequena. Você sabe, a psicóloga explicou para você, que algumas crianças despertam mais cedo para a leitura e outras demoram um pouco mais. Você ainda está na primeira série e apenas está iniciando o segundo semestre. Falei com sua professora e ela informou que este processo de atraso na alfabetização pode ocorrer, sendo considerado normal na primeira série. Pediu-nos para aguardar este novo período escolar, que você deverá deslanchar. Além de tudo você sempre vai bem quando executa as provinhas e os exercícios na escola.
Ante as palavras tranquilizadoras da mãe, a garota serenou, descendo para a sala, indo almoçar.
Após a refeição, Laura sentou-se no sofá, preocupada.  Percebia as dificuldades de alfabetização da filha, culpando-se por não ter paciência em lhe ensinar. Era muito difícil realizar tarefas colegiais, as mínimas possíveis, com Letícia. Ela parecia estar sempre desinteressada. Laura falava, explicava e a filha demonstrava estar desligada. Olhava para todos os lados, sem concentração, sem foco.
Recordou que até os três anos de idade a pequena Letícia ainda não falava, expressando poucos sons; apenas pedia as coisas com gestos.  Procuraram especialistas e estes não encontraram irregularidades com a saúde física da menina. Aconselharam-na a consultar um psicólogo, o que prontamente fez acompanhada do marido Eduardo. Esta profissional sugeriu que ao mesmo tempo também obtivessem a opinião de uma fonoaudióloga. Mediante estas atenções, a garota aprendeu a falar, embora invertesse constantemente as sílabas, falando errado, o que era considerado engraçadinho e típico da fase. Melhorara muito, a ponto de ao completar cinco anos de idade, a fonoaudióloga encerrar a terapia, para que a menina desenvolvesse as habilidades de comunicação sem um acompanhamento direto, considerando que estava apta para evoluir junto ao seio familiar e escolar. Letícia aprendeu a falar, a expressar suas vontades, porém, articulando poucas palavras. O estritamente necessário. Atribuíram este comportamento a timidez. Por esta razão, Laura solicitou a continuidade no tratamento psicológico. Percebia que a sua pequena era uma flor acanhada, com receio de desabrochar.  Tampouco Letícia demonstrava interesse pela leitura, mesmo que os pais lessem as histórias dos livrinhos para ela. Era um comportamento diferente dos dois irmãos mais velhos, aficionados em livros.
Algumas vezes Laura pediu a Eduardo, seu marido, que à noite prestasse atenção às tarefas escolares da filha.  O pai de boa vontade tentou, mas em vão. Era difícil trabalhar com a garota. Faltava empenho da menina, mesmo permanecendo quietinha, não observavam a existência de concentração. Permanecia dispersa, distante.
Conversando com as amigas, uma delas sugeriu a Laura, a contratação de uma professora particular, especializada no atendimento de crianças com dificuldades em aprendizagem. Indicou uma senhora de nome Irene, que atendia ao seu filho, este com insuficiência motora, informando que esta profissional era formada em psicologia, atendendo apenas a crianças com deficiência nas séries iniciais, dispondo ainda de horários vagos para aulas particulares, o que fazia indo nas casas dos clientes.
Laura considerou ser uma excelente alternativa. A professora viria em sua residência e isto facilitaria a vida da família, já que Laura e o Eduardo eram comerciantes, proprietários de lojas de roupas, com quatro unidades na cidade. Ser uma empresária, dona do próprio negócio, facilitava-lhe a vida, possibilitando flexibilizar os horários de modo a levar as crianças para a escola de manhã, buscá-las ao meio dia, almoçando no lar. Nas demais atividades como cursos extras e esportes, as crianças eram levadas por um transporte alternativo, que atendia a vários moradores do condomínio onde residiam.
Eduardo alegava que a impaciência de Laura em acompanhar as tarefas escolares da filha era devido ao fato dela ser uma pessoa muito ativa e agitada, acostumada a lidar com pessoas adultas. Consideraram que uma educadora particular seria a alternativa adequada.
Laura conversou com a pessoa indicada, sentindo segurança na qualidade do trabalho, percebendo o carinho com que ela acolhia os alunos. Contratou-a para vir três vezes por semana em sua morada para apoiar a filha. A profissional solicitou a compra de brinquedos e material educativo, sendo prontamente atendida. No quarto de Letícia, foi pregado junto à parede, um quadro branco, para ser utilizado com caneta especial. Ali no silêncio elas estudavam durante uma hora e trinta minutos. Encerrado o horário de estudo, Letícia passou a chamar as coleguinhas para brincarem de escola, já que seus aposentos continham uma miniestrutura de sala de aula. No final do primeiro bimestre relativo ao segundo semestre do ano letivo, embora as notas de Letícia fossem boas, a menina ainda não conseguira aprender a ler. Laura conversou com coordenadora do educandário, manifestando sua inquietude em relação à filha, considerando os parcos progressos, apesar do reforço e apoio que a garota estava recebendo. Pediu que o colégio ficasse atento para verificar o que ocorria, principalmente porque os exercícios passados em sala de aula e as provinhas eram todos feitos corretamente, e em casa, ela apresentava tantas dificuldades. Como Letícia conseguia fazer estes trabalhinhos e provinhas se não sabia ler, apesar dos reforços pedagógicos?
A professora da sala, Ana Carla, extremamente dedicada, resolveu proceder algumas mudanças físicas na classe. Observara que Letícia apesar de tímida tinha excelente relacionamento com os colegas. Ela possuía habilidades para esportes, brincadeiras. Sentava-se sempre ao lado dos alunos com nível de aprendizagem avançada. Tanto garotos como garotas.
A educadora Ana Carla resolveu trocar as crianças de lugar, escolhendo ela própria às carteiras que seriam ocupadas pelos alunos, bem como os colegas que sentariam ao lado. Disse à turma:
- Vamos mudar os lugares para que vocês possam conhecer outros amiguinhos. Desde o início do ano vocês estão sempre próximos a um grupo de coleguinhas. Precisamos nos unir, conhecendo um pouquinho mais outros estudantes, ampliando as amizades.
Aproveitou a ocasião para proporcionar uma aula de sociabilidade, amizade, respeito. Estrategicamente posicionou Letícia próxima às crianças com maior dificuldade em aprendizagem e que retardavam para fazer os exercícios, precisando do auxílio da professora, embora já dominassem a leitura.
Neste dia Letícia veio para casa muito brava. Falou:
- Mãe, a professora mudou os lugares. Eu não gosto dos colegas que ela deixou nas carteiras perto de mim. Eles são bobos. Não sabem nada.
- Filha, respondeu a mãe, esta é uma oportunidade conhecer outras crianças. Você poderá descobrir novos amiguinhos. Dê uma chance para você avaliar como eles são e deles demonstrarem o quanto poderão ser legais. Nós não gostamos de quem não conhecemos, não é verdade?
- Não mãe. Eu detestei. Eu gostava como era antes. Eu não quero assim.
A partir desta data Letícia passou a reclamar de ter que ir à escola o que antes fazia com satisfação. Os exercícios que deveriam ter sido feitos em sala de aula passaram a vir em branco. Nas avaliações efetuadas em classe, ela passou a tirar notas baixíssimas.
Irene, a professora particular mostrou os cadernos para Laura. Esta foi novamente até o colégio, verificar com a professora Ana Carla, o que estava ocorrendo. Juntas deduziram que na verdade Letícia não conseguira aprender a ler e, portanto, não tinha condições de fazer sozinha a tarefa em casa o que já fora comprovado, mas também não tinha habilidade de desenvolvê-las em sala de aula, tampouco em fazer as provinhas. Como era uma garota inteligente, buscou alternativas. Uma delas foi aproximar-se dos alunos mais espertos da classe e copiar as tarefas e testes destes. Ela buscara alternativas para sua deficiência, demonstrando interesse em se enquadrar no modelo aluno padrão. Estranhavam a dificuldade da menina, pois aparentava normalidade, era ágil, demonstrava vivacidade, mas não conseguia avançar no processo de alfabetização.
Letícia começou então a chorar na sala de aula, a ficar com baixa autoestima, sendo necessário reforçar o atendimento psicológico.
          Estava próximo ao final do ano letivo, quando Laura ouviu falar de uma pedagoga que trabalhava na linha da Neurolínguistica, uma nova modalidade de entender o cérebro e o comportamento mental. A neurolinguística, segundo pesquisa efetuada num dicionpario pela matrona, é a disciplina que estuda os mecanismos do cérebro humano e que possibilitam a compreensão, a produção e o conhecimento da linguagem, tanto falada como escrita.
             Esperançosa, ela marcou um horário para Letícia. Após efetuada avaliação prévia, foi dado o veredicto que os quesitos mentais, psicológicos e motores estavam dentro da normalidade. Laura manifestou:
- Então, porque Letícia não aprende a ler. Parece que ela não se interessa. Às vezes tenho a impressão que ela tem uma deficiência mental, o que os profissionais que consultei discordaram. Não entendo esse desinteresse, essa dificuldade permanente.
A pedagoga neurolinguista pacientemente respondeu:
- Laura, pense: ela não entende, portanto não se interessa. Somente passará a ter interesse no momento em que compreender. Precisamos trabalhar para levar Letícia à compreensão das letras e das atividades, aí automaticamente ela despertará. Necessito de mais algum tempo para investigar as razões que estão prejudicando o desempenho desta menina.
Felizmente a família dispunha de recursos, refletiu Laura. Então além da psicóloga, da professora particular, uma especialista em Neurolinguística foi acrescentada ao grupo de acompanhamento da criança.
Eduardo o pai, brincava:
- Minha filha aprendeu a colar na escola antes de estudar.
Laura explicou-lhe que segundo a professora Ana Carla isto era uma resposta positiva, embora sendo uma atitude incorreta, consistia numa demonstração que Letícia possuía um bom nível de inteligência, tanto que encontrara alternativas para o seu problema.
No final do ano, o Conselho de Classe do educandário se reuniu e chamou Laura para tomarem uma decisão. Letícia não aprendera a ler. Deveria avançar de série? O que fazer?
Analisaram a situação e mediante manifestação da psicóloga que atendia a garota, reprová-la iria causar sérios danos à autoestima, que estava sendo tratada no momento. Por outro lado, ela não estava apta a acompanhar o processo evolutivo das demais crianças. Diante da promessa de Laura em manter e reforçar a estrutura que atendia a filha, assumindo o compromisso que as férias seriam reduzidas e um mês antes do início das aulas Letícia iniciaria os atendimentos específicos como: aula particular, psicóloga e pedagoga neurolinguista, a garota foi aprovada para a segunda série, mesmo sem saber ler.
Laura assumiu este acordo, embora se sentisse aflita. Recordava a facilidade que a filha tinha em aprender atividades motoras ou que envolvessem expressão corporal. Andava de bicicleta sem as rodinhas, em perfeito equilíbrio. Lembrou quando aos cinco anos a filha pedira de presente um par de patins para o pai que estava viajando. Ao retornar, Eduardo trouxera o famoso par de patins, ficando ela felicíssima com o presente. Chegando à residência, ela calçou os patins, começou a andar sozinha ao redor da casa, apoiando-se nas paredes. Era verão, e as crianças do condomínio reuniam-se para brincar junto ao quiosque próximo a casa deles. Às vinte e duas horas, Laura observou Letícia deslizando habilmente de patins sobre as calçadas de passeio, entre os jardins do condomínio.  Espantou-se com a mobilidade e presteza da filha.
Laura era uma pessoa atualizada, assinante de diversas revistas informativas. Nas férias, leu um artigo sobre Dislexia, uma disfunção de aprendizagem. O texto mencionava que as crianças com este problema apresentavam complicação na fala, desenvolvendo tardiamente este sentido. Também têm dificuldade em alfabetização, trocando as letras ou sílabas e às vezes escrevem invertido, como se fosse um reflexo no espelho. Era um sábado á tarde, e após a leitura, ela teve um pressentimento; confusa Laura subiu até o quarto da filha, que estava brincando de escola com as amiguinhas.
- Oi mãe, disse Letícia sorridente, ao vê-la entrar. Olhe o que eu escrevi. A Bruna minha amiginha brincou de professora e ditou para mim.
Laura ficou pasma, olhando o quadro à sua frente. Era como se Letícia estivesse escrevendo no espelho, com as letras invertidas. Sorriu ao entender que o acaso ou o Universo a auxiliara a descobrir a razão da deficiência de sua filha. Chamava-se Dislexia. Aguardou ansiosa a chegada do marido para compartilhar a descoberta com ele.
Assim que Eduardo chegou, Laura chamou-o para conversar.
- Eduardo, eu desvendei o que a Letícia tem.  Trata-se de um transtorno de linguagem e que dificulta o aprendizado desta em leitura, soletração, escrita, linguagem expressiva e matemática. Veja, disse mostrando a revista foi nesta reportagem que eu li: aqui diz que as crianças portadoras deste transtorno recebem o rótulo depreciativo de incapaz, o que leva à baixa estima como estava ocorrendo com a nossa pequena. Não é que ela não seja inteligente, mas é portadora de um distúrbio que pode ser trabalhado e acompanhado, embora o processo de tratamento seja longo e contínuo.
Estupefato, Eduardo olhou para a esposa e disse:
- Laura, a sua dedicação e persistência auxiliou a nossa menina. Se for realmente isto, ficará mais fácil orientá-la agora que sabemos a origem do problema. Existe remédio?
- Não. Tem base neurológica, embora não seja detectado em exames. E pasme, acomete cerca de 10% da população mundial, mas muitos desconhecem a condição. É uma das razões da evasão escolar. Os primeiro sinais são demora em desenvolver a fala, e desponta na fase de alfabetização. A criança pode apresentar complicações em ler, escrever e soletrar.  Entender o texto escrito é complexo para os disléxicos. Creio que ela terá igualmente dificuldades no aprendizado de matemática daqui para frente, principalmente em decorar a tabuada. Pelo que entendi da explicação, hoje Letícia apresenta as dificuldades ortográficas, principalmente a troca de letras, inversão, omissão e até acréscimos de letras. Penso que o que ela tem é o tipo de Dislexia com Disgrafia.
Laura contou a Eduardo o que vira no quarto da filha para que ele entendesse a origem de sua dedução, além do texto lido.
Preocupado Eduardo indagou
- Como vamos tratá-la? Tem cura?
Laura com a revista nas mãos retrucou:
- Pelo que entendi, não tem cura, tem tratamentos e acompanhamentos.  O diagnóstico é feito por exclusão, por uma equipe multidisciplinar: médico, psicólogo, psicopedagogo, fonoaudiólogo e neurologista. E nós já consultamos profissionais de todas as categorias apontadas. Isoladamente não encontram anormalidades em nossa menina. Ela não tem dificuldades neurológicas, visuais e auditivas, tampouco problemas emocionais. Creio que estamos no caminho certo. Falta apenas redirecionar o rumo, precisamos de uma equipe multidisciplinar. Imagine como foram difíceis para ela durantes anos, suportando nossas cobranças às quais não tinha condições de atender. Para Letícia é como se as palavras, as letras dançassem e pulassem em sua frente. Ela percebe as letras, sílabas e palavras como se estivem borradas, com um traçado em cima, e por isto não faz sentido para ela. Daí o desinteresse. Não entende, portanto, não se interessa.
Conversaram ainda algum tempo sobre a descoberta, e combinaram que Laura já na segunda feira iria comunicar aos profissionais de atendiam sua criança sobre a dedução, para que fizessem uma investigação mais detalhada e as respectivas análises técnicas para comprovar o diagnóstico. Também consultou a fonoaudióloga para novo acompanhamento. Após o redirecionamento do caso, a equipe chegou à conclusão que se tratava realmente de um caso de dislexia. A Neurolinguista convidou a professora particular de Letícia para uma entrevista, orientando-a como encaminhar o processo de alfabetização da garota, o que fariam de forma compartilhada.
Laura e Eduardo ficaram contentes. Haviam encontrado um caminho. A equipe multidisciplinar alertou-os que disléxicos possuem habilidades especiais para as artes, o atletismo e os esportes. Deveriam ficar atentos para incentivá-la à medida que despertasse ou demonstrasse gosto para uma ou mais destas atividades.
Para Letícia, a Psicóloga e a Pedagoga Neurolinguista explicaram que ela teria um pouco de dificuldade no aprendizado em função deste probleminha. Em compensação ela possuía algumas habilidades, como por exemplo, a facilidade no aprendizado de esportes, artes. Salientaram, principalmente os esportes, por ser uma atividade que utilizava a parte motora, habilidade que ela própria já comprovara ser detentora. Poucas crianças aprendem a patinar perfeitamente e livremente em algumas horas, recordou Laura, elogiando-a. Foi-lhe explicado que a mente dela possuía capacidade de aprender, apenas precisava de uma forma diferente de explicação, pois seu cérebro compreendia a escrita de maneira especial.
A criança, ante as explicações indagou:
- Mamãe, isto é ser deficiente? É igual ao irmão da Bruna, a minha amiga?
- Não, Letícia.  Disléxico não é deficiente, apenas é diferente, embora este diferente não seja igual ao “diferente” do irmão da Bruna. Existem vários tipos de diferenças. Lembre-se sempre: todos os são seres que possuem necessidades especiais  merecem respeito. No seu caso você apenas precisa que ensinem as letras e a escrita de maneira que utilize os vários sentidos ao mesmo tempo. Você precisará ouvir e enxergar as letras, é mais ou menos assim. Lembra como a sua professora particular a Dona Irene treina aqui em casa: ela mostra as letras grandes feitas em borracha e fala. Juntas vocês montam as sílabas, as palavras, olhando e falando ao mesmo tempo.
Laura inquietou-se.  Como explicar a situação para sua filha, sem criar preconceitos ou complexos prejudicais a educação da criança?
A partir desta data Letícia foi alfabetizada, entrando na segunda série com conhecimento das letras, embora ainda com dificuldade na leitura.
A família comprovou o quanto a menina era dedicada, desde o momento em que começou a entender a explicação que lhe era fornecida.
A professora particular teve um desempenho fantástico nesse processo de alfabetização. Como o maior bloqueio era em relação à letra, a sílaba e o som, a terapia foi mediante treino da memória junto com a percepção visual e auditiva. Para estudar, Letícia lia o texto, gravava e após ouvia este texto ou as palavras enquanto escrevia. Ou a professora falava e Letícia ouvia e escrevia. O disléxico assimila muito bem tudo que é vivenciado. Assim a professora usava muito figuras de objetos para reforçar e escrever as palavras, que ela montava com as letras avulsas e grandes do joguinho que a mãe comprara. A Dona Irene mostrava a figura de uma casa. Letícia falava o que enxergava na imagem. Após pegava as letras e formava a palavra. No princípio era comum a garota inverter as letras: Exemplo: casa, ela montava as letras assim: “caas,” menino ficava “nemino”. Geralmente a quantidade e as letras utilizadas para compor a palavra estavam corretas. Somente a colocação é que ficava inversa.  Para matemática usaram um sistema de contagem em ábaco, e outras peças, tipo um jogo de víspora ou bingo. Foi importantíssima a utilização do ábaco, que é um antigo instrumento de cálculo, formado por uma moldura com arames ou fios paralelos, dispostos no sentido vertical, correspondentes cada linha a uma posição digital como: unidades, dezenas, e nos quais estão os elementos de contagem, no caso, pequenas contas. É como se fosse uma extensão de contar nos dedos. Os cálculos matemáticos a menina executava neste instrumento e somente após transferia o resultado para o papel. É uma peça barata e facilmente encontrada nas lojas de material didático.
Os anos seguintes não foram fáceis. Letícia continuou com dificuldade em linguagem escrita, ortografia e lentidão na aprendizagem da leitura. Manusear um dicionário ou uma lista telefônica era muito difícil para ela. Apenas com o avanço da informática, quando estes assuntos passaram a ser explorados via computador, é que ela obteve franca evolução. A família adquiriu vários jogos educativos com formação de palavras para auxiliá-la. A garota somente demonstrou interesse em histórias infantis, mesmo quando lidas pela mãe, a partir da quarta-série. Começaram a ler juntas, e a pequena passou a se encantar com a atividade.
Laura ainda relembra às vezes em que sua filha estudava muito para as provas, e conseguia tirar notas próximas a cinco. Voltava para casa chorando e lamentava:
- Mãe eu sou burra mesmo. Estudei tanto e só consegui tirar quatro e meio. A fulana não estuda e tira nota sete, oito.
Ante estas manifestações de aflição e decepção, Laura dizia:
- Calma filha. Lembra o que a psicóloga falou e a diretora do colégio reforçou:
- Um cinco numa prova para você, equivale a um nove ou dez para os outros estudantes. Valorize o seu esforço.
- Mãe, eu não quero isto. Não quero ser assim. Não gosto desta dificuldade.
- Oh! Minha pequena. Você precisará conviver com isto. Aos poucos irá melhorar; é como usar óculos. Precisará sempre deles. Ou no caso do diabético, tem uma vida normal, apenas necessita do remédio chamado insulina. As dificuldades não tornam as pessoas depreciativas. Não permita que a discriminem e principalmente não faça isto com você. Valorize as suas mínimas conquistas. Recorde a história que lhe contamos do famoso cientista e daquele artista que são pessoas disléxicas e conseguiram superar as deficiências, tornado-se seres admiráveis e muito especiais.
Letícia não se conformava. Felizmente e psicóloga a auxiliava a trabalhar a autoestima, geralmente afetada.
A família necessitou conversar com a escola, sobre as orientações recebidas dos profissionais relativas às formas de proteção que a legislação do país proporcionava aos alunos diferentes ou portadores de necessidades especiais. Assim conseguiram que principalmente a partir da sexta série, Letícia, caso fosse mal com as provas escritas, tivesse um complemento de prova oral.  Pelas normas do educandário, a partir da quinta série, os professores não mais procediam à leitura oral em voz alta do teste antes de ser aplicado e dos alunos preencherem os quesitos com as respectivas respostas, como ocorria nas séries anteriores. O disléxico necessita de um ledor. É complexo para ele fazer uma leitura silenciosa. A própria coordenação do colégio comentava com Laura, que quando submetiam Letícia ao teste oral com o conteúdo idêntico ao da escrita, constatavam que oralmente ela sabia as respostas das questões, obtendo notas entre oito ou nove. Comparando com a prova escrita, que ela preenchia sozinha e com leitura em voz baixa, a pontuação ficava entre três a cinco. A direção optou por somar as notas de ambos os testes, dividindo por dois, atribuindo-lhe como nota a média destas, acrescida dos trabalhos e outros critérios comuns a todos os alunos.
Ficava claro que ao estar numa sala em silêncio junto com a coordenadora ou professora, e esta aplicava falando a mesma pergunta que a garota tinha errado, ela sabia a resposta correta, apenas não havia entendido o questionamento que lera silenciosamente. Ter que escrever uma resposta também era complexo. Segundo a pedagoga neurolíguista, a melhor forma de testar os conhecimentos de um disléxico é com um ledor, isto é, alguém que leia a prova, considerando que leitura silenciosa é complicada para o disléxico. A partir das séries mais avançadas a professora da escola não efetua mais a leitura oral da prova para os alunos, conforme o sistema de ensino nacional. Daí a necessidade de condições excepcionais, conforme a família comprovara.
Laura matriculou Letícia num curso de inglês, para acompanhar suas amiguinhas. Ela não conseguiu avançar além do básico. Estes cursos por livros modulares são inadequados para disléxicos, pois estes precisam de mais tempo para o aprendizado e de uma forma diferenciada de explicação. Estudar língua estrangeira é difícil para crianças portadoras de dislexia.
Laura e Eduardo atualizaram-se sobre a Dislexia, contatando com entidades que trabalham com o problema. Estavam cientes que o aprendizado de uma segunda língua seria custoso para a filha.
Letícia desde cedo demonstrou vocação para atividades esportivas. A família a apoiou e incentivou a desenvolver esta área, onde os próprios irmãos corroboravam.
Quando Letícia concluiu o segundo grau Laura sentiu-se vitoriosa. Era o resultado do trabalho conjunto, da união familiar, da dedicação dos profissionais e da persistência da filha.
Letícia era uma vencedora. Teria novas batalhas pela frente, principalmente se quisesse cursar uma faculdade. Mas, para quem superara etapas difíceis na infância e adolescência; na juventude com maior grau de maturidade, enfrentaria os desafios de forma consciente, com probabilidade de sucesso, embora constituísse uma nova luta.
Ela aprendera e fora treinada para batalhar e a persistir em suas escolhas e decisões.
O futuro estava à sua frente, como está para todos os jovens. Bastaria enfrentar, planejar, desejar e principalmente se dedicar, trabalhar, tomar as rédeas de sua vida e projetos.
Letícia fora preparada para aceitar com tranquilidade a realidade como se apresenta, e ainda a fazer uso da sabedoria, da criatividade e da tenacidade, depositando qualidade em todos os seus empreendimentos. Estar inteiramente presente na execução das atividades mais simples às mais complexas. Concentrar-se nos objetivos, colocando a totalidade do seu ser nas tarefas que fosse executar. Isto resultaria na superação. Gostar e estar empenhada naquilo que faz, foi-lhe ensinado precocemente. Vencer desafios era uma constante para Letícia e ela estava habituada a esta situação.