Menina assustada
Frente aos
problemas da vida, inúmeras vezes eu me sinto como uma garotinha assustada,
permanecendo encolhida em minha cama, no refúgio de meu quarto. Eu já estou na
terceira idade, época em que tantos afirmam constituir o melhor período da
existência humana; porém, eu penso que de melhor não tem nada; trata-se simplesmente
de uma etapa onde detenho mais conhecimentos, experiências e em consequência também
acumulo um número maior de frustrações em relação às realizações. Nesta fase os
projetos que não se concretizaram adquirem um peso maior, provocando uma dor no
coração. Essa dor pode ser mera decorrência dos incômodos e insucessos que
estão armazenados no consciente e pior, pelos que ficaram mascarados ou escondidos
no inconsciente. Esse descômodo pode ser decorrente da aquiescência do pouco tempo
que sobra para readquirir forças para lutar e vencer. Afinal não quero partir
deixando tantos sonhos inacabados.
Preciso de energias para afrontar o gigante
que me apavora. Justamente nos momento em que me encolho, relembro da menina
que tinha medo de fantasmas e bichos selvagens; sentia-se frustrada quando era
incompreendida pelas coleguinhas, ficava tristonha ao ser repreendida pelos
pais e professores, angustiava-se quando não conseguia boas notas na escola, desgostava-se
por brigar com os irmãos, reclamava quando chovia demais a impedindo de correr
livre pelas ruas e jardins, necessitava proteger-se do sol escaldante obrigando-a
buscar refúgio numa sombra amiga. Tantas trivialidades que foram importantes na
construção do meu SER. É assim contraída e no aconchego de minha mente que eu
revejo minha jornada, aceito meus erros e acertos, repenso minhas atitudes,
programo novas ações e reencontro as energias necessárias para levantar. Sei
que problemas e desafios eu sempre os terei, contudo, a forma como os enfrento
é que faz a diferença. Descobri um método específico para me fortificar: buscar
dentro de mim a menina assustada que foi aos poucos aprendendo a batalhar,
evoluir, trabalhar, chorar, sorrir, enfim, viver!
Século vinte e hum!
Parece impossível que o abuso e o barbarismo da humanidade
ainda se faça presente. Mascaram-se com novas armaduras, modernas artilharias e múltiplas razões são apregoadas para
esconder o velho fanatismo de ideias. Parece que nada foi aprendido com os
erros do passado. Sequer pode-se atribuir esta diversidade de pensamentos a
novas teorias filosóficas, pois prevalecem os mesmos radicalismos de opiniões e
ações. E novamente as sociedades que não agem e maneira idêntica ou professem o
mesmo segmento religioso, ousando protestar, manifestar opinião divergente,
quer através de reflexões, textos, desenhos, teorias, sátiras, vozes ou
palavras que conflitem com determinado segmento ideológico, então são considerados
inimigos e como tal devem ser abatidos, por atreverem-se ao questionamento. Na
era anterior a Cristo as nações tinham como justificativa para as lutas a
conquista de territórios, juntamente com a devoção aos diversos deuses de suas
respectivas crenças. Posteriormente foi incorporado o cristianismo e a
perseguição e tortura de seus seguidores. Vieram as cruzadas, quando às novas batalhas
territoriais foram acrescidas do elemento religiosidade. Chegou-se a Idade
Média com o terror da Inquisição, sacrificando pessoas novamente por
pensamentos religiosos divergentes.
Tempos se passaram, advindo as guerras
modernas, munidas por armamentos poderosos, com ações sangrentas, onde as
razões apregoadas foram as parêmias
sobre o poder econômico, a luta das classes, sempre ocultando interesses
escusos. Atualmente entre revoluções silenciosas que iniciam pela diversidade
de ideais, pela pressão das classes oprimidas, proliferam movimentos, alguns
justos, até razoáveis, outros, entretanto, são acrescidos de um fanatismo
radicalizado de cunho religioso, provocando revoltas, mortandade, maldade, e em
consequência muita dor e estupefação. Será que a diversidade de posicionamentos
em relação a ideologias, comportamentos, justifica a falta de bom senso e de
civilidade? Quando os seres humanos aprenderão a conviver com respeito às
desigualdades? As pessoas não são iguais, portanto, também os dogmas tendem a
ser diferenciados, aportando em princípios múltiplos. O grande aprendizado que
se faz premente para os humanos é a deferência e o reconhecimento dos distintos
grupos de pensamento em relação à religiosidade e outros preceitos, coexistindo
com igualdade de direitos e deveres, independente de opiniões teológicas
pessoais. Essencial é o reconhecimento da prerrogativa à vida e a liberdade,
com equidade.
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