segunda-feira, 7 de abril de 2014

Mudança na mentalidade dos educadores

Assunto: Oswaldo Rodrigues Cabral, médico, historiador, poeta e membro da Academia Catarinense de Letras e patrono  da escritora Osmarina Maria de Souza na Academia Desterrense de Letras. Texto embasado apresentação da escritora Osmarina.
     Na exposição, a escritora Osmarina mencionou o período  em que Oswaldo Rodrigues Cabral, adolescente, estudou como semi-interno no colégio particular, entidade na época mantida e administrada por padres educadores que adotavam a forma rígida de ensino, utilizando-se de duros castigos, impugnando dores físicas e morais. Ainda, no caso, faziam inúmeras reclamações do aluno junto ao seu progenitor, que por sua vez  aplicava-lhe surras homéricas.Isto tudo ocorreu durante a escola ginasial, lá pelos idos de 1920 ou pouco antes, considerando 1903 o ano de nascimento de Cabral.
  Este relato reportou-me lembranças de meu período escolar. Como Cabral eu também cursei escola normal, o estudo  mais comum de nível secundário e preparatório para curso superior.
Todavia, eu estudei desde a pré-escola até a formação de normalista em colégio de freiras, educandário exclusivamente feminino, mantido pela Congregação das Irmãs Católicas. Felizmente vivi outras épocas em que o castigo físico já havia sido abolido. Se por um lado obtive um bom índice de aprendizado com professores competentes, por outro, ressenti-me da falta de compreensão para algumas inabilidades das quais sou portadora, como por exemplo: ser desajeitada e sem graça para dança, a ponto de ser excluída na apresentação da classe numa homenagem ao dia das mães. Recordo como assisti desolada, sentada ao lado de minha mãe,  todas as demais colegas dançando no palco com uma cestinha de flores. Finda a apresentação, elas correram em busca das progenitoras  entregando-lhes as rosas  que estavam na cesta. Tenho presente, ainda hoje, a expressão desolada e a frase de mamãe:
- Todas as suas coleguinhas estavam lá no palco, só você é que não.
- A Irmã R....,ela não deixou;  disse que eu não tinha aprendido dançar, respondi chorosa.
     Entendo o quanto ela gostaria que a sua filhinha também lhe entregasse aquelas flores, e o sentimento de frustração por não eu estar incluída no conjunto. Porém, o que ela nunca soube foi à tristeza que senti por ter sido discriminada. Concordo que nos ensaios eu era atrapalhada, entretanto, penso que se tivessem me deixado bem escondidinha, lá na última fila das meninas, pouco notariam as minhas dificuldades e imperfeições.  Eu tinha apenas seis anos de idade, quando recebi  a primeira demonstração de que as escolas não eram perfeitas e os preconceitos existentes  em relação aos alunos fora do modelo padrão. Por sorte, eu era dotada de bom nível de inteligência e facilidade em escrever redações,  o que contrapôs com as demais deficiências artísticas que eu apresentava. Detestava as aulas de música e canto. Confesso nunca entendi aquelas bolinhas das notas musicais e no coral eu sempre desafinava. Para piorar, nas aulas de desenho, enquanto as meninas faziam réplicas perfeitas dos personagens da Disney, eu sequer conseguia fazer uma margem reta utilizando a régua. Para dificultar ainda mais, nas últimas séries foi incluída uma matéria de artes aplicadas, onde constavam trabalhos manuais de bordado, e tricô. Lógico, que estes trabalhos foram efetuados pela minha mãe, e quando a professora chegava perto, eu fingia que estava colocando linha na agulha, para ela não perceber a inaptidão. A desafinação de voz nas aulas de canto eu camuflava expressando um som baixo e inaudível. Já na matéria de desenho, eu aprendi a trocar estes trabalhos com as colegas; assim, elas faziam os desenhos para mim, em troca de redigir as suas redações, atividade que consistia em terror para aquelas artistas em potencial.
Comparando a passagem estudantil de Cabral com a minha, percebo que as mudanças foram apenas atenuantes nos corretivos físicos, sem existir uma compreensão das dificuldades e das multi-inteligências dos alunos. Atualmente, consideram-se as capacidades intelectuais dos estudantes, bem como, buscam desenvolver as habilidades motoras das crianças. Isto é um grande avanço, embora a educação necessite de alterações constantes em sua metodologia em face de necessidade de acompanhamento no desenvolvimento social, cultural,intelectual e tecnológico que ocorre no mundo.
      Apesar dos relatos, sou grata aos meus pais que fizeram um enorme sacrifício para pagar o ensino particular, com o intuito de proporcionar a melhor educação. Claro que no colégio haviam também as alunas preferidas das freiras, pela  relevância social e financeira  de suas respectivas famílias na pequena cidade.
    Fui criada numa família simples, mas com muito afeto. Meu pai abominava castigos físicos e jamais me bateu. Já naquela época, meus progenitores detinham um pensamento avançado para o espaço em que residiam. Eles me incentivaram a estudar, a cursar uma faculdade e a adquirir uma profissão. Não queriam sua filha dependente do rendimento de cônjuge, ou desesperada em arrumar um marido que a sustentasse.  Consideravam importante a independência financeira da filha.
   Como a biografia de Oswaldo Rodrigues Cabral comprova, somos o resultado do meio e trazemos na bagagem  a força das vivências adquiridas e deste conjunto resultam nossas atitudes  e o que nos tornamos no campo pessoal e profissional.  Uma frase do escritor que ressalta a  energia marcante dos primeiros anos nos bancos escolares, foi a que escreveu após ser expulso do Colégio Catarinense:
_”  Neste dia considerei o meu 13 de maio. Foi a minha libertação.”
     A despeito das experiências negativas, sempre gostei de estudar, frequentando assiduamente a biblioteca do Colégio e minhas recordações não são de todo traumatizantes. O que compreendi neste comparativo é o valor  da escola e o quanto esta é determinante para as crianças e adolescentes. Daí advém à responsabilidade dos educadores e a necessidade do  acompanhamento familiar nesta etapa. Considero que se houver alguma “libertação” que esta ocorra com a diplomação e consequente mudança para o exercício profissional. Afinal, com a celeridade das mudanças atuais, somos e seremos eternos alunos, sempre carentes de bons mestres e novos aprendizados, sem esquecer a inclusão social e de aceitar as diversidades. Somos seres humanos, cada qual com seu próprio molde, que poderá ser aperfeiçoado, porém, jamais olvidado.



Lourdes e Pai/Formatura Curso Normal

Lourdes e Pai/Formatura Curso Ginasial

Um comentário:

  1. NARRATIVA 1ª PESSOA

    Descreve sobre Osvaldo Rodrigues Cabral durante o período escolar, suas aptidões como também suas dificuldades nos trabalhos manuais, e escolares, mas ao mesmo tempo agradecida aos pais pela educação que teve; a partir daí sua independência financeira, mas apesar de todas as dificuldades, houve a libertação e consequentemente o sucesso profissional.

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