segunda-feira, 24 de março de 2014

A BELEZA DO OUTONO

Ao completar cinquenta anos de idade, comecei a sentir um cansaço, uma falta de energia.  Então, um estado letárgico dominou o meu ser. Preocupada, consultei a medicina tradicional, efetuei os exames clínicos de praxe, não constatando anormalidades em meu físico. Pensei então que o problema poderia estar no íntimo. Busquei ajuda na terapia holística, onde me informaram que eu atingira o outono da vida e esta mudança de estação inserida na faixa etária provocava alterações comportamentais, e entre essas, o descontrole e o enfraquecimento das correntes energéticas que alimentam a mente dos humanos. Indagaram-me ainda, qual o horário em que eu sentia-me ainda mais fragilizada. Respondi prontamente que o período crítico da desernegização ocorria em torno das dezenove horas, e isto todos os dias.

 Diagnosticaram-me com a síndrome do entardecer da vida, processo que se acentua principalmente ao anoitecer, quando a luminosidade do dia finda, sendo necessário o acendimento as luzes de apoio. Recebi uma medicação homeopática, acompanhada de recomendações práticas para a manutenção da saúde. Aos poucos melhorei, alterando, porém, meu comportamento frente á vida. Passei a observar a natureza e a equipar o meu ser com os elementos com compõem a estação outonal.  Nunca a árvore próxima à sacada de minha casa parecera-me tão aprazível, de uma beleza serena, emanando luminosidade nas folhas que a ornavam, bem como nas que caiam, colorindo e alimentando o solo. 
Compreendi que assim é a sequência da natureza: um começo, um meio e um fim. Depois vêm o desabrochar, quando as plantas se refazem e os humanos se renovam pelas vindouras gerações. Senti-me feliz por desfrutar desta fase, comprometendo-me a vivê-la com plenitude. Aceitei as rugas que se formaram em meu rosto, sem pretensão de eliminá-las, pois fazem parte de quem sou. Logicamente eu as tratei com alguns cremes, da mesma forma como se aduba o solo para revigorar o tronco da árvore.  Os cabelos, que para mim representam as folhas, eu os colori assegurando-lhes viço e tonalidade. Estas foram as modificações externas ocorridas na passagem. 
O preponderante foram as transformações sobrevindas em minha alma a partir da aceitação da nova fase e da decisão em buscar o caminho da espiritualização, da compreensão acerca da razão desta experiência terrestre. Em consequência, eu descobri o reconforto, a leveza, a força para enfrentar os desafios, a placidez, as realizações, o aconchego, a introspecção, a maturidade, a importância e o fundamento da existência do outono.  Ao acatar as mutações corporais eu aprimorei o ser mental e espiritual, e tranquilamente internalizei o outono da vida. Ah! Que bela estação.

Fotos Freepik/internet

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